segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Coisas que a gente não vê: peça infantil que foge à puerilidade


CRÍTICA DE TEATRO
● Peça: Coisas que a gente não vê

Coisas que a gente não vê


Um Teatro dos Quatro lotado conferiu a volta aos palcos cariocas do musical infantil "Coisas que a gente não vê", no último sábado, 12 de janeiro. O espetáculo, que fica em cartaz até 24 de fevereiro, concorre ao Prêmio Zilka Salaberry 2012 em três categorias: texto (Renata Mizrahi, disputando pela segunda vez consecutiva, depois de vencer a edição passada com "Joaquim e as estrelas"), direção (Joana Lebreiro) e atriz (Débora Lamm).

A indicação é mais do que merecida. "Coisas que a gente não vê" é um espetáculo que equilibra muito bem o entretenimento que se espera para uma criança naqueles 50 ou 60 minutos com a consistência de sua mensagem, que atinge em cheio aos pais.

Débora Lamm vive Yasmim, uma menina mimada que chora por tudo e se vê infeliz diante de suas futilidades. Ao longo da peça, enquanto ela toma consciência de que a vida é muito mais do que ganhar presentes, os pais são alertados, de forma bem-humorada e lúdica, sobre como podem ser sérias as consequências de sua ausência na criação dos filhos.

À boa história soma-se o fato de as músicas serem executadas ao vivo - algo cada vez mais incomum no teatro para crianças, afeito aos playbacks, talvez para reduzir custos. No palco, dois músicos dividem espaço com os atores, que interpretam as canções.

"Coisas que a gente não vê" é um espetáculo infantil que foge à puerilidade. Altamente recomendado, ainda mais nesses tempos em que sobram formas de diversão - nem sempre tão saudáveis - dentro de nossas próprias casas. Por mais tentadoras que sejam as opções da TV a cabo, sempre vale muito a pena dedicar aos nossos filhos o tempo que temos disponível.

Ficha técnica:
- Texto: Renata Mizrahi
- Direção: Joana Lebreiro
- Elenco: Débora Lamm, Susana Kruger, Elisa Pinheiro, Alexandre Mofati e Vicente Coelho
- Direção musical: Igor Araújo
- Reveza: Angela Bellonia

Serviço:
- Local: Teatro dos Quatro - Shopping da Gávea
- End.: Rua Marquês de São Vicente 52, Gávea - RJ
- Data: sábados e domingos até 24 de fevereiro
- Horário: 17h
- Ingressos: R$ 50 inteira e R$ 25 meia
- Lotação: 402 lugares
- Classificação livre
- Informações: (21) 2274-9895 / www.teatrodosquatro.com.br / www.facebook.com/coisasqueagentenaove

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Music and me


Para a maioria das pessoas, a música é apenas uma forma de diversão. Ouvir uma canção no rádio ou assistir a um show é um passatempo como outro qualquer. E deixar de ver/ouvir um artista, mesmo que seja um dos seus favoritos, não é o fim do mundo.

Comigo não é assim. Música, pra mim, é coisa séria. Por exemplo, ter perdido a oportunidade de assistir, anteontem, ao show de Stevie Wonder na Praia de Copacabana, por mais morno que tenha se mostrado no final, seria uma espécie de sacrilégio.

É difícil definir a importância da música na minha vida. Ver um artista do qual sou fã é como aprender mais, como preencher um espaço vazio. Em resumo, embora não sintetize todo o meu sentimento, posso dizer que é uma experiência que me enriquece.

Essas divagações vieram à tona depois que eu assisti, agora há pouco, ao filme "Gonzaga - de pai pra filho". A vida e a obra desses dois ícones da música brasileira são, na mais abrangente concepção da palavra, cultura. Ver um filme sobre eles não foi apenas assistir a uma boa história, nem ouvir um punhado de canções clássicas da MPB. Foi, no mínimo, uma oportunidade de absorver conhecimento sobre um pouco do que de melhor a música brasileira já produziu. Algo que eu não poderia perder, e precisava ser feito na tela do cinema.

O filme é comovente. Em vários momentos, foi preciso conter a emoção. A atuação de Julio Andrade como Gonzaguinha adulto é absurda, no melhor dos sentidos. E as cenas finais, com a reconciliação de pai e filho, culminando no show "A vida do viajante", que fizeram juntos em 1981 (e que gerou um LP, depois convertido em CD), apoteóticas. Decerto a plateia teria aplaudido, não estivesse a sala quase vazia, o que é natural, já que o filme está saindo de cartaz - no Rio, esta semana, apenas uma sala o exibe.

Foi uma pena não tê-lo assistido antes. Mas, como dizem, antes tarde do que nunca, ainda mais para aprender.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Catedral e Novo Som juntos: talento, caráter e honestidade a serviço da boa música gospel


Desde que parei o Universo Musical, em 2008, tenho estado afastado do mundo da música. Um pouco menos do meio gospel, por causa dos meus clientes de web, embora o máximo que faça é ler uma matéria aqui e outra ali. Uma delas, que vi hoje num site gospel – e adaptei para a seção de notícias da editora Efrata Music (um dos meus clientes) – me agradou a ponto de reproduzi-la aqui.

A reportagem, sobre um disco conjunto a ser lançado em 2013 pelas bandas Catedral e Novo Som, por si só é alvissareira, já que esse projeto reunirá as duas melhores bandas de pop-gospel que o Brasil já conheceu. Mas, além disso, a notícia trouxe uma certa nostalgia daqueles bons tempos de convivência musical e do que de melhor eu tirei dali – a amizade com artistas que conjugam talento e caráter.

Mais do que ótimos cantores, do mesmo nível das melhores bandas de pop-rock nacional, Kim (Catedral) e Alex Gonzaga (Novo Som) sempre me chamaram a atenção pela honestidade com que tratavam todo tipo de assunto. E isso, é claro, estende-se à música que fazem e à relação com os fãs.

Portanto, Kim e Alex, caso encontrem este texto pelos Googles da vida, saibam da minha admiração por vocês e da saudade que tenho das nossas entrevistas. Parabéns pela brilhante ideia de unir duas bandas com estradas que tanto se cruzam. A vocês, desejo todo o sucesso do mundo.

Confira abaixo o texto que publiquei no site da Efrata Music:


Catedral e Novo Som gravarão disco juntos

Duas das maiores bandas gospel brasileiras nos anos 80 e 90 – se não as maiores – Catedral e Novo Som lançarão, em 2013, um CD e DVD juntos. O projeto já tem nome: Mais que Amigos = Irmãos. De acordo com o site Gospel Prime, também está prevista uma turnê conjunta pelo Brasil.

Para o ano que vem, Kim, vocalista do Catedral, também prepara o lançamento de um novo CD solo, intitulado Intimidade Sonora. O disco trará sucessos da carreira solo do cantor – que, a partir de 2013, passará a adotar o nome artístico Kim Catedral – e da banda liderada por ele em versões intimistas, com voz, violão e baixo acústico.

As duas bandas guardam histórias semelhantes. O Catedral surgiu em 1987 e lançou seu primeiro disco no ano seguinte, o LP Você, pela extinta Pioneira Evangélica. Em 1994, com o álbum Contra Todo Mal, estreou na então MK Publicitá (hoje MK Music), ampliando o sucesso. Foi uma das bandas gospel mais populares de toda a década, até que, em 1999, deixou o meio evangélico para entrar na multinacional Warner Music, por onde lançou três CDs. Já nos 2000, voltou para uma gravadora gospel, a Line Records, ainda que pelo selo popular New Music – que praticamente só teve o Catedral em seu cast. Em 2003, preparando-se para gravar o primeiro DVD da carreira, o grupo perdeu o guitarrista Cezar, irmão do vocalista Kim e do baixista Júlio, em um acidente de carro. Hoje, Kim, Júlio e o baterista Guilherme seguem carreira independente.

Contemporâneo ao Catedral, o Novo Som também estreou no mercado fonográfico em 1988, com o LP Um Novo Som para Cristo, pela extinta Favoritos Evangélicos. Mesmo sem o apoio de uma grande gravadora, colecionou hits e fãs ao longo dos anos 90 com álbuns como Pra Você (1990) e Meu Universo (1997). Em 2000, estreou na MK Music com o CD Herói dos Heróis. Dois anos depois, por causa de desentendimentos, a banda perdeu seu baixista e principal compositor, Lenilton. Em 2012, assim como o Catedral, o Novo Som segue carreira independente, depois que os remanescentes Alex Gonzaga, Geraldo Abdo e Mito decidiram sair da MK. Recentemente, conforme noticiado no site Gospel+, fãs de Lenilton criaram uma campanha no Facebook pedindo a volta do músico ao Novo Som.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Um detetive viciado na verdade


CRÍTICA DE TV
● Programa: Elementary (série)
● Data: 25/10/2012
● Canal: Universal Channel

Elementary (série)


Lar das minhas séries favoritas - as extintas "House" e "Law & Order" e a longeva "Law & Order Special Victims Unit", já em sua 14ª temporada nos Estados Unidos (em novembro no Brasil) - o Universal Channel estreou ontem "Elementary", uma de suas principais apostas em um momento de renovação de sua grade. A premissa da série é modernizar o mais tradicional detetive britânico, Sherlock Holmes. Na versão de Robert Doherty, o personagem criado no final do século XIX por Arthur Conan Doyle é um ex-viciado em drogas, recém-saído de uma clínica de reabilitação, que troca Londres por Nova York.

No entanto, a mais radical inovação talvez esteja no Dr. Watson, aqui, na verdade, uma ex-médica, a "pantera" Lucy Liu, que inicia a trama como monitora de Holmes, incumbida pelo pai do detetive de mantê-lo na linha. Já o Sherlock vivido pelo ator Jonny Lee Miller é tão desleixado quanto autoconfiante. Com a barba por fazer e repleto de tatuagens, ele é, como não poderia deixar de ser, um gênio na arte da dedução, resolvendo casos que a polícia nova-iorquina não dá conta.

Num determinado momento do primeiro capítulo, Sherlock Holmes diz a Watson que não precisa dela, já que desistiu das drogas. Seu vício, de fato, é outro: a descoberta da verdade. Os olhos esbugalhados e o jeito estressado, muito bem evidenciados pela interpretação de Miller, fazem com que Holmes pareça sempre "high" (alto, ou drogado), como dizem os americanos, em busca de pistas que desvendem o crime. Contraponto total a Joan Watson, "zen" até demais no capítulo piloto. Lucy Liu pareceu tímida no papel de coadjuvante de Holmes.

Em seu primeiro caso, o detetive tem que desvendar o assassinato da esposa de um psiquiatra. A trama, um tanto óbvia, alternou bons momentos com outros mornos. Mas o início parece ser promissor. Com a difícil missão de ocupar o horário que foi da cultuada "House" durante oito anos, "Elementary" tem potencial para agradar os fãs órfãos do médico ranzinza do hospital Princeton-Plainsboro e ganhar novos admiradores. Até porque as séries guardam semelhanças, sobretudo no modo como seus protagonistas solucionam os casos, sejam médicos ou policiais (o próprio David Shore, criador de "House", já confidenciou, em um dos programas "What's up", do Universal, que Sherlock Holmes foi uma de suas principais inspirações para o personagem tão bem interpretado durante oito temporadas por Hugh Laurie).

Apesar de ter faltado um pouco do "gás" de outras séries policiais, como "CSI" e "Law & Order Special Victims Unit", o início de "Elementary" mostrou que o programa deve crescer com novos episódios e personagens.

sábado, 13 de outubro de 2012

Zé Renato garante animação para crianças e adultos em feriado chuvoso


CRÍTICA DE SHOW
● Zé Renato pras Crianças (12/10/2012)

Zé Renato pras Crianças


Depois de uma semana de primavera com temperaturas de alto verão no Rio de Janeiro, a chuva parecia querer estragar o Dia das Crianças - que este ano caiu numa sexta-feira de feriadão ainda mais prolongado para muitos, com o Dia do Comerciário na segunda-feira seguinte (15). Mas o aguaceiro que despencou na Cidade Maravilhosa não tirou o ânimo de quem foi ao Teatro Rival, no Centro da cidade, assistir ao show Zé Renato para Crianças, comandado pelo ex-cantor do grupo Boca Livre.

Sem uma superestrutura de palco à la Adriana Partimpim, Zé Renato (ao violão) e banda calcaram-se na força das músicas para garantir uma apresentação muito animada e divertida. Decisão mais que acertada, já que o repertório do show tem como base seus dois ótimos CDs infantis - Samba pras Crianças (2003) e Forró pras Crianças (2006), mais algumas canções pinçadas dos clássicos A Arca de Noé 1 e 2, de Vinicius de Moraes - do qual ele participou com o Boca Livre -, e outras pérolas do cancioneiro infantil.

De seus discos, Zé Renato misturou canções tipicamente infantis, como O Sapo, a outras não necessariamente direcionadas a crianças, mas que se adaptaram muito bem a esse universo, como o samba Maracangalha (Dorival Caymmi) e o forró Sebastiana (Jackson do Pandeiro). Da Arca de Noé, Zé Renato pinçou, para alegria de crianças e adultos, O Ar, A Casa e O Pato. O músico ainda visitou o repertório de Chico Buarque duas vezes, relendo História de uma Gata (do musical Os Santimbancos) e Ciranda da Bailarina (gravada por Adriana "Partimpim" Calcanhoto), e ainda de Gilberto Gil, com a infalível Sítio do Pica-Pau Amarelo.

Com bom humor, repertório certeiro e músicos de primeira linha o acompanhando, Zé Renato aqueceu a sexta-feira fria e a chuva do Rio de Janeiro. Muitos adultos que foram ao Teatro Rival para animar seus filhos talvez tenham se divertido tanto ou mais que eles. Falo por experiência própria...

Hoje tem mais uma apresentação de Zé Renato no Teatro Rival. Para quem puder ir, é uma ótima dica - só não esqueça o guarda-chuva. Confira abaixo o serviço do show:

Teatro Rival Petrobras
Data: 13/10, sábado, às 18h
End.: Rua Álvaro Alvim, 33/37 - Cinelândia
Preços:
Setor A / Setor B / Mezanino:
- R$ 50 (Inteira)
- R$ 25 (Meia entrada para estudantes, idosos e professores da rede municipal).
- R$ 20 (Crianças de 03 a 10 anos)

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Marcos Goes ganha novo site, agora “.com”

Print screen da home page do site
Está no ar o novo site do Ministério Marcos Goes, desenvolvido por mim, com a preciosa colaboração do amigo Bruno Barros. Foram seis meses de trabalho, aproxidamente, até a estreia, em março. As páginas reúnem biografia, discografia, galerias de fotos e vídeos, downloads e outros itens sobre o cantor, compositor e pastor Marcos Goes, que é autor de verdadeiros clássicos da música gospel, como as músicas “Autoridade e poder” e “Bem querer”, e de álbuns emblemáticos, a exemplo da série “As Vigílias”. Também foi trocado o domínio – o endereço www.marcosgoes.art.br deu lugar a www.marcosgoes.com.

Print screen da vitrine da Loja Marcos Goes
Ainda estou fazendo ajustes para que o site funcione corretamente em diferentes versões do Internet Explorer. Mas quem usa o Mozilla Firefox, o Google Chrome ou o Opera já pode vê-lo exatamente como foi concebido. Aliás, se você usa o IE, sugiro que mude para um dos três navegadores supracitados, que são muito melhores. Basta clicar nos nomes para baixá-los.

A ideia principal do site, demandada pelo cliente, era que todo o conteúdo fosse exibido de modo a não haver barra de rolagem vertical (muito menos horizontal!). Se fosse necessário utilizá-la, que o scroll ficasse dentro do site, e não no navegador.

Para isso, mesclamos HTML/CSS (já com muitos recursos do CSS3, como bordas arredondas), JavaScript/jQuery e PHP. Flash somente na abertura.

Tanto no filme de abertura quanto no background do site, a proposta foi apresentar diferentes fases de Marcos Goes, que já tem quase 30 anos de carreira (ou ministério, como ele prefere chamar) e 40 álbuns lançados, entre discos de estúdio, ao vivo, coletâneas e playbacks. O background ocupa o tamanho máximo de 1920 x 1080 pixels. Portanto, quanto maior a resolução de tela do usuário, mas ele verá a imagem de fundo, que traz fotos de Marcos Goes em épocas distintas.

Print screen do informativo de 29/06/2012
Com a nova identidade visual e o novo domínio, mudou também o layout do informativo (ou newsletter) que mandamos de uma a três vezes ao mês para a base de usuários cadastrados no site. O mais recente foi enviado hoje (29/06). Acho que é o mais bonito que já produzimos em nossas campanhas de e-mail marketing. Clique aqui para visualizá-lo.

Vale lembrar que eu também desenvolvi – novamente com uma ajuda preciosa, desta vez da empresa de hospedagem Hostnet – a Loja Marcos Goes, toda feita na plataforma Magento. Foi um trabalho árduo e solitário, que ocupou boa parte do meu tempo – incluindo fins de semana, feriados e muitas madrugadas em claro – durante um ano e meio.

A loja estreou em 2011. Estão à venda cerca de 20 CDs e mais de 100 músicas em MP3, para download.

Em breve surgirão mais novidades sobre o Ministério Marcos Goes, que serão postadas aqui. Enquanto isso, visitem o site, a loja e o informativo e comentem!

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Álvaro Tito: um músico completo no auge da forma

Álvaro Tito - Reinas em glóriaCRÍTICA DE CD
● Disco: Reinas em glória
● Artista: Álvaro Tito
● Gravadora: Sony Music

Álvaro Tito - Reinas em glórias






Há cerca de duas semanas, fui à loja El Shaday do Norte Shopping, no Rio, prestigiar o amigo Elvis Tavares na noite de autógrafos do livro Álvaro Tito - Uma biografia sem barreiras (Editora Ágape), do qual falei recentemente, em outro post. Lá, para minha surpresa, tive a oportunidade de reencontrar o biografado, que muito simpaticamente me presenteou com seu mais recente CD, Reinas em glória (Sony Music).

Pode parecer tarde para comentar o álbum, que foi lançado em 2011. Mas, quando o assunto é Álvaro Tito, eu pareço mesmo estar sempre atrasado. A última vez em que nos encontramos foi numa festa de fim de ano da gravadora Line Records, em Nova Iguaçu, em 2004. Na época, eu já estava devendo ao Álvaro, há mais de um ano, a entrega do troféu de Melhor Disco Gospel de 2003, pelo CD Levante-te, numa seleção que fiz para o Universo Musical, envolvendo artistas, álbuns e shows de diferentes estilos, como era de praxe no site. Não pude levar o troféu para aquele evento, e até hoje Álvaro Tito está num "seleto" grupo dos poucos a quem não premiei pessoalmente. Além dele, só a banda Jota Quest e o cantor Alex Cohen não receberam o troféu, que foi entregue a Rita Lee, irmãos Caymmi, Dudu Nobre, Zeca Pagodinho, Ivete Sangalo, J. Neto, Kleber Lucas e outros grandes nomes da música brasileira, popular e evangélica.

A primeira impressão que tive ao ouvir Reinas em glória, ainda na loja do Norte Shopping, foi a mesma da época em que escutei Levante-te. Algo como "esse cara realmente gosta de Stevie Wonder". Em Reinas em glória, a influência é explícita, por exemplo, nos funks Deus é nosso refúgio e Sete castiçais de ouro (ambas de Álvaro Tito).

Mas, assim como há 11 anos, uma audição detalhada revela muito mais. Álvaro Tito é um cantor com a rara habilidade de conjugar técnica perfeita e emoção à flor da pele. Suas interpretações são tão viscerais que ele, mesmo sem ter escrito ou musicado uma canção, poderia ser considerado coautor da obra. Certamente, vários de seus compositores - se não todos - surpreendem-se depois de lhe entregar suas obras cruas e ver o que elas se tornaram. Com a mesma convicção, é possível afirmar que muitas músicas que gravou só se mostram tão grandiosas graças à sua habilidade não só como cantor, mas também como produtor e arranjador. Afinal, como aprendemos na biografia escrita por Elvis Tavares, o multi-instrumentista Álvaro Tito produz e arranja todos os seus álbuns.

Para traduzir essas palavras em música, vale citar a faixa Minha provação, do consagrado compositor Edison Coelho. Talvez seja a canção de Reinas em glória que melhor ilustre os talentos múltiplos de Álvaro Tito. A letra tem uma temática bem simples - "há no mundo tanta gente chorando mais, sofrendo mais que você". Mas a solução que Álvaro criou para os arranjos, fazendo com que a canção cresça ao longo da execução, embalada por um coral de arrepiar, até o final arrebatador, é para aplaudir de pé.

Ideia semelhante é apresentada, de modo mais simples, em A sala do banquete, do próprio Álvaro Tito. É outra canção em que o coral - no melhor estilo da gospel music das igrejas americanas, com palmas e tudo - faz grande diferença.

Mas no somatório de letra, voz e instrumental, o grande destaque do CD é a música de abertura, Somente pela graça, na qual o texto inspirado de Elvis Tavares (mesmo autor de Não há barreiras, maior sucesso de Álvaro Tito) é emoldurado por um lindo arranjo orquestral, numa bem dosada mistura dos teclados de Fábio Santa Cruz e das cordas de Aysllany Edifrance, Gabriel Gonçalves, Wanderson Cesar (violinos) e Mateus Rangel (violoncelo).

Multifacetado, Álvaro Tito vai do funk-groove-suingado Carregado piano (autoral) à balada romântica Aconteceu (Daniel Gomes), com a participação precisa do sax de Abdiel Arsênio, que também brilha na balada pop Deposito toda minha fé. No meio do caminho, passa pela jazzística Esse nome tem poder (Álvaro Tito), em que é acompanhado pela formação baixo (Dudu Bernardo), bateria (Rodrigo Ribeiro), violão (Pablo Chies) e teclados (Fábio Santa Cruz).

Subindo e descendo tons como se fossem degraus, Álvaro Tito brinca com a voz, em seus conhecidos melismas, em três músicas compostas por parentes - Reinas em glória, do primo Manoel S. O. Filho; As promessas de Deus, bela letra de Jorge Severiano, pai do cantor; e Na beira da estrada, de sua mãe, Olindina Ramos. Vale ressaltar que o coral tem a participação da irmã de Álvaro, Elvira.

Completam o repertório de 14 faixas as músicas Guarda o que tens e O vale de Jaboque, mais dois exemplos do domínio que Álvaro Tito tem de sua voz e da produção que o cerca. É um músico completo, no auge de sua forma.

Cada vez que ouço Reinas em glória, gosto mais do disco. Se eu tivesse feito a escolha dos melhores de 2011, a essa altura, provavelmente, estaria devendo dois troféus a Álvaro Tito.

Eu entre Elvis Tavares e Álvaro Tito no Norte Shopping

sábado, 9 de junho de 2012

Biografia de Álvaro Tito é uma história de amizade

Depois de um longo e nem tão tenebroso assim inverno, retomo as postagens aqui no blog com a felicidade de tecer alguns comentários sobre o livro Álvaro Tito – Uma biografia sem barreiras. A obra marca a estreia literária do meu amigo Elvis Tavares, prolífico compositor, com diversos sucessos emplacados no cenário da música gospel.

Só para citar alguns, são de Elvis Tavares, com ou sem parceiros, os hits Coração de carne (gravado por Wanderley Cardoso), O velho homem (J. Neto), O jovem rico (Novo Som), Os portais (Vitorino Silva) e Fogo Santo (Lea Mendonça). Mas sua composição mais famosa, sem dúvida, é Não há barreiras, canção que, como se lê no livro, representou muito mais que o maior sucesso na voz de Álvaro Tito – foi um verdadeiro divisor de águas da música gospel brasileira, assim como outras faixas daquele LP, também intitulado Não há barreiras, lançado em 1986, pela multinacional Polygram (atual Universal Music).

Apesar de trazer a palavra “biografia” no nome, o livro de Elvis Tavares é, na verdade, a história de uma grande amizade entre biógrafo e biografado, bem como o testemunho da admiração – musical, sobretudo – que o autor nutre por Álvaro Tito. E não é para menos: ao longo das 271 páginas, o leitor descobre que Tito, como era chamado na infância, é multi-instrumentista (saxofone, violão, guitarra, bateria e percussão são alguns dos instrumentos citados); que “peitou” os dirigentes da supracitada Polygram para ele mesmo produzir e arranjar o LP Não há barreiras, isso com apenas 21 anos; que na juventude, enquanto o sonho de qualquer artista era ingressar numa grande gravadora e ser indie não estava em voga, Álvaro já pensava em seguir carreira independente (pode até ser considerado um dos pioneiros dessa iniciativa, hoje tão em moda, com a falência das grandes gravadoras por causa da pirataria), que é considerado o precursor da black music gospel nacional, entre outros inúmeros feitos.

Também conferem mais riqueza ao trabalho os depoimentos de grandes artistas evangélicos admiradores de Álvaro Tito – Marco Aurélio, Martin Lutero, Silvera e Alex Gonzaga. Martin Lutero revela que, nos anos 80, nutria uma rivalidade musical com Álvaro Tito, bem no estilo Wanderley Cardoso x Jerry Adriani. Outra novidade, ao menos para mim, é uma parceria do biografado com Chrigor, ex-vocalista do Exaltasamba, quando ele deixou o grupo e iniciou carreira solo.

Aliás, as referências à música popular são inúmeras. Elvis Presley, Al Jarreau, Earth Wind and Fire, Roberto e Erasmo Carlos, Tim Maia, Stevie Wonder (maior influência musical de Álvaro Tito), João Gilberto e Tom Jobim são alguns artistas citados. Todos aparecem na história do livro (e de Álvaro) contextualizando uma determinada época, uma música gravada, uma situação ocorrida. E vale destacar, tudo sempre com citações bíblicas. É nítida a preocupação do biógrafo de não chocar os evangélicos mais tradicionais.

Em vários momentos do livro, por sinal, Elvis Tavares pega uma trilha paralela à de Álvaro Tito e cita alguns dos pioneiros da música gospel, como Vitorino Silva, Feliciano Amaral, Ozeias de Paula e Edison Coelho. Nomes a quem Aline Barros, Regis Danese, Ana Paula Valadão e outros que já extrapolaram os limites do meio evangélicos devem um “muito obrigado” por terem iniciado o que é hoje o mercado gospel brasileiro, com músicas executadas em horário nobre na Rede Globo e discos à venda em supermercados e megastores virtuais.

Outros momentos marcantes da música gospel também são citados, como o boom de gravadoras evangélicas nos anos 80 e 90 – muitas delas já extintas, a exemplo de Nancel Produções e Som e Louvores – e a criação, por Marina de Oliveira, da MK Music (na época MK Publicitá), hoje, sem dúvida, a maior produtora fonográfica do meio gospel.

Por tudo isso, pode-se dizer, sem medo de errar, que Álvaro Tito – Uma biografia sem barreiras é também um livro sobre a história da moderna música gospel brasileira. Um tema, muito provavelmente, que Elvis Tavares – profundo conhecedor do assunto, como denotam seus artigos no site da editora Efrata Music – irá explorar mais a fundo em obras futuras.

Bom, depois de chegar à segunda página do Word, percebo que aquilo que era para ser apenas um preâmbulo do release que escrevi sobre o livro acabou se tornando um novo texto! Se você, que chegou até aqui, quiser ler mais sobre a publicação, clique aqui e baixe o release. Lá existem várias outras nuances do livro que não explorei aqui no blog.

Por fim, deixo meus parabéns ao amigo Elvis Tavares e digo que estou muito feliz por ter participado de uma forma ou de outra de sua bem-sucedida empreitada, seja diretamente, ao ser citado no livro, junto com matérias que escrevi para meu site Universo Musical, seja indiretamente, por meio de minha contribuição ao site da Efrata Music, criado e administrado por mim. Espero que, como falei acima, esta seja a primeira de muitas produções literárias sobre a música gospel brasileira, carente desse tipo de registro.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Elton John no Rock in Rio: um genial estranho no ninho

CRÍTICA DE SHOW
● Elton John - Rock in Rio (29/09/11)




Elton John fez uma apresentação tecnicamente impecável na abertura do quarto Rock in Rio, na madrugada de sexta (23) para sábado (24). Em cerca de uma hora e meia, o cantor britânico tocou muitos de suas dezenas de hits, mostrou entrosamento perfeito com a banda e deu um show de virtuosismo ao piano, do qual só saiu para tímidas saudações ao público. Ao contrário de sua antecessora no Palco Mundo, Katy Perry – que fez várias trocas de roupa, vestiu-se com a bandeira do Brasil e interagiu bastante com a plateia – Sir Elton John preocupou-se “apenas” com o essencial: a música. E agradou quem estava lá por causa dela.

Algumas frases em português teriam sido bem-vindas, é verdade. Mas não faltou simpatia ao senhor britânico, que, aos 64 anos, mostrou-se em plena forma física e musical, embora a voz já não tenha a mesma potência de outrora, o que o obrigou a usar tons mais graves. Enquanto enfileirava seus sucessos – da abertura com Saturday night’s alright for fighting até o encerramento com Crocodile Rock, passando por Daniel, Rocket man, Don’t let the sun go down on me, Philadelphia freedom, I’m still standing, The bitch is back, Goodbye yellow brick road, Skyline pigeon, I guess that’s why they call it the blues e Bennie and the jets, entre outros hits – o cantor distribuiu muitos sorrisos, interagiu bastante com seus ótimos músicos e nem ligou quando um fã subiu ao palco para homenageá-lo. Não foi diferente em canções menos conhecidas, como a excelente Hey Ahab – gravada em seu mais recente álbum, The union (2010), feito em parceria com Leon Russell – na qual o coral feminino deu um show à parte.

O maior revés para Elton John – e para quem foi ao Rock in Rio só para assisti-lo – foi a (des)organização do evento, que parece não ter aprendido com os erros das edições anteriores. A lambança começou com a escolha dele para uma noite “teen”, em que o público, jovem em sua maioria, estava mais interessado em fazer festa do que em ouvir música. Seria mais inteligente tê-lo escalado para esta quinta (29), que tem atrações voltadas para o público adulto (não seria ótimo ver uma sequência com Elton John e Stevie Wonder?).

Outro equívoco foi colocar Elton John para tocar depois de Claudia Leitte e Katy Perry e antes de Rihana. Foi um banho de água fria tanto para a garotada quanto para os fãs do cantor, que deixou o palco sem tocar Your song, seu principal sucesso, guardado para um bis que não aconteceu, talvez por causa da apatia de boa parte do público.

No fim das contas, 90 minutos foi pouco. Ficou um gosto de quero mais, como tudo que é bom. Resta esperar que Elton John volte em breve, num show só dele, e toque mais de seus inesquecíveis clássicos, como Sad songs (uma das várias ausências sentidas no set list), para uma plateia que saiba reconhecer sua genialidade musical.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

AXN promete episódio inédito de Law & Order – Criminal Intent mas passa reprise

Não há nada tão ruim que não possa piorar, não é mesmo? O AXN acredita piamente nessa máxima. Ontem (05/09), não satisfeito em omitir as legendas – como já comentei em um post anterior – o canal exibiu o episódio errado de Law & Order – Criminal Intent. Enquanto a informação de tela da Net mostrava que, naquele horário (21h), estava previsto o início da 10º temporada, inédita no Brasil, o AXN mostrava uma reprise do 9º ano. E o pior: a volta dos episódios inéditos, que marcam o retorno da dupla de investigadores Goren e Earnes (ausente da 9ª temporada), também fora prometida no site do AXN! A pergunta que continua sem reposta é: até quando vai esse desrespeito ao telespectador?

Google faz belíssima homenagem a Freddie Mercury

Freddie Mercury, morto em 1991, teria completado 65 anos ontem (05/09). Maior cantor de rock de todos os tempos, ao lado de Elvis Presley, o vocalista do Queen recebeu uma belíssima homenagem do Google. Tudo é bom no clipe de animação criado pela gigante das buscas, a começar pela escolha da trilha sonora, a música Don't stop me now. Certamente, o melhor "Google Doodle" até hoje.

Como qualquer adjetivo é pouco para qualificar tanto a homenagem quanto o homenageado, fica o vídeo com a animação. E o desejo dos fãs brasileiros para que os remanescentes do Queen, liderados por Brian May – um dos maiores guitarristas de rock de todos os tempos – voltem ao Brasil, depois da passagem que tiveram por aqui em 2008, na época com os vocais de Paul Rodgers.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

AXN extrapola limite do bom senso ao omitir legenda

Há algumas semanas, o AXN – canal do mesmo grupo do Sony, ambos transmitidos na TV paga – vem exibindo a série Law & Order – Criminal Intent, às segundas-feiras à noite, com pouca legenda ou sem absolutamente nada. E não é um problema novo.

Até algum tempo atrás, o AXN "somente" omitia as legendas no início de cada bloco, ao voltar do intervalo. Nunca contei o tempo, mas talvez fosse coisa de 1 a 2 minutos. Parece que era um ensaio para os mais recentes episódios, em que blocos inteiros são exibidos sem tradução alguma.

Mesmo quem tem bom conhecimento de inglês é prejudicado. Primeiro porque, se a pessoa está concentrada para traduzir, a legenda atrapalha nos momentos em que resolve aparecer. Segundo porque muita gente, como eu, tem que ver televisão à noite com o volume baixo, às vezes totalmente no zero, para não acordar a família. Nesse caso, sem a legenda, fica impossível assistir ao programa.

Os erros, é claro, não acontecem apenas em Law & Order – Criminal Intent, muito menos são exclusivos do AXN – Warner e o próprio Sony são campeões de reclamação quando o assunto é legendagem ruim. Mas o que vem se passando no canal 34 da Net extrapola qualquer limite do bom senso.

A ausência de legendas é o ápice da falta de respeito dos canais pagos com o telespectador/assinante, que já tem a sensação de estar queimando dinheiro ao se deparar com longos e repetitivos intervalos comerciais – em que as emissoras anunciam sempre os mesmos programas de sua própria grade – e os horários vendidos aos "TV Shoppings" da vida.

Esse assunto já rendeu muitas reportagens nos veículos que trabalham com televisão. O jornalista Ricardo Feltrin, do UOL, disse até que já procurou a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), responsável por fiscalizar as emissoras. Segundo ele, o órgão governamental não demonstrou qualquer interesse em reverter a situação.

Sendo assim, fico me perguntando o que nós, consumidores, podemos fazer. Cancelar a assinatura não parece a melhor solução, já que a TV aberta, com seus Faustões, Gugus, Fazendas e BBBs, reduz cada vez mais a qualidade de sua programação. Algo que, indiscutivelmente, não acontece na TV paga, em que sobram bons programas. Ruim é a forma como eles são exibidos pelas filiais brasileiras de muitos canais.

sábado, 30 de julho de 2011

Capitão América enfim ganha filme digno do personagem

CRÍTICA DE FILME
● Capitão América – O Primeiro Vingador




Acabei de assistir a Capitão América – O Primeiro Vingador no cinema e gostei bastante do que vi. Sou suspeito, porque é o meu herói favorito, mas posso dizer, sem medo de estar exagerando, que, no universo dos filmes Marvel, só perde para os dois Homem de Ferro.

O maior mérito do filme, sem dúvida, é retratar o Capitão América sem patriotismo exagerado. Ele é, sim, um super-herói americano, mas a serviço de seu país na 2ª Guerra Mundial, e apenas isso. Aliás, a ambientação anos 40 é outro dos vários pontos positivos do longa dirigido por Joe Johnston. Também vale destacar os efeitos especiais – sobretudo a caracterização de Chris Evans antes de se tornar um supersoldado, nos moldes do que foi feito em O Segredo de Benjamim Button – e a própria atuação do ator, surpreendente. Evans, que não convencera como o Tocha Humana de Quarteto Fantástico, está ótimo no papel de Capitão América.

Outro que também aparece muito bem no filme é Tommy Lee Jones, que interpreta o general Chester Phillips, responsável pelos poucos – e bons – momentos cômicos. Por outro lado, Hugo Weaving decepciona como o Caveira Vermelha, não lembrando nem de longe o agente Smith de Matrix. O Howard Stark – pai de Tony Stark, o Homem de Ferro vivido por Robert Downey Jr. – de Dominic Cooper é mais um que não convence.

Joe Johnston poderia ter explorado um pouco mais os momentos de ação, as habilidades do Capitão América – como o uso do escudo – e os confrontos com o Caveira Vermelha. Mas, em compensação, criou um filme de super-herói diferente dos padrões, mais próximo de uma aventura épica à la Indiana Jones, com uma boa trama e um roteiro bem amarrado. E ainda preparou muito bem o terreno para o filme dos Vingadores, que estreará em 2012.

Depois do tosco mas até divertido longa de 1990, enfim o Capitão América ganha, nas telonas, um filme digno do personagem. Para a alegria dos fãs, como eu.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Assaltaram a gramática

Na internet, a língua portuguesa é mais bombardeada que o Iraque e o Afeganistão juntos. E de onde mais se espera o bom exemplo é de onde não vem nada mesmo.

Esses dias, postei aqui a indigesta salada mista com “x” escrita no Blog do Bonequinho, página de cinema do site do jornal O Globo. Eis que hoje, no mesmo site, lendo o blog de Patrícia Kogut, que fala de TV, deparo-me com a seguinte manchete:

“Após três dias internado, Elias Gleiser já está em casa de repouso”. O título me fez compadecer do ator, que, já idoso, parecia estar em uma dessas “casas de repouso”, para a terceira idade, talvez porque não tivesse alguém para cuidar dele. Nada disso. Elias Gleiser, na verdade, estava em sua própria casa, de repouso, ou seja, descansando, como fica claro ao ler o restante da matéria. A dúvida surgiu por que faltava uma vírgula no título: “Após três dias internado, Elias Gleiser já está em casa, de repouso”. Ou melhor ainda: “Após três dias internado, Elias Gleiser já está de repouso em casa”.

Dificilmente erros grotescos como esses sairiam publicados num jornal impresso. Apesar de estar em expansão, o jornalismo digital ainda é preterido pelos grandes veículos de comunicação, se comparado ao seu irmão de papel, apesar de as empresas ganharem dinheiro com a publicidade on-line que nos impõem.

A verba talvez ainda seja pouca, mas nem isso, nem qualquer característica do meio digital, justifica as aberrações encontradas todos os dias nos sites de jornais e revistas.

PS: Depois que escrevi sobre o erro, na parte de comentários dos leitores, o blog de Patrícia Kogut colocou a vírgula da discórdia no título. Mas isso foi mais de seis horas depois da postagem da matéria. E o meu comentário não foi publicado!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Dez músicas sobre amizade

No Dia do Amigo, comemorado hoje, 20 de julho, selecionei dez canções que falam sobre este nobre sentimento. São 6 estrangeiras - sendo duas do Queen - e 4 nacionais, incluindo "O Amigo", linda música do cantor gospel Sérgio Lopes. Enjoy!

Friends will be friends - Queen



You're my best friend - Queen



Ben - Michael Jackson



With a little help from my friends - The Beatles



You've got a friend - James Taylor



That's what friends are for - Dionne Warwick, Gladys Knight, Stevie Wonder e Elton John



Fotografia - Leoni e Leo Jaime



Amigo - Roberto Carlos e Erasmo Carlos



Canção da América - Milton Nascimento



O Amigo - Sérgio Lopes

terça-feira, 19 de julho de 2011

Plugin insere propaganda da Record no site do jornal O Globo

Como eu disse mês passado, no post Complete a frase, a tecnologia, sem a intervenção humana, pode ser um desastre. Mas também pode ser muito divertida.

O Blog do Bonequinho do jornal O Globo usa um plugin do Busk.com que lista notícias relacionadas a determinado assunto – no caso, cinema. O problema é que "as últimas notícias sobre qualquer assunto", como diz a propaganda do plugin, podem ser também de qualquer um, até mesmo de seu maior concorrente.

No screenshot aí embaixo, à direita do post sobre o filme "Não se preocupe, nada vai dar certo", de Hugo Carvana, aparece o favicon do R7.com, portal de notícias da Rede Record, num link sobre a refilmagem de "O Juiz" ("Judge Dredd", no original), cuja primeira versão foi protagonizada por Sylvester Stallone.

Se o plugin não permite personalização, só resta ao Globo não usá-lo mais, ou então engolir as aparições de sua arquirrival. Mas, se a opção escolhida for a segunda, não precisa ser a seco: para acompanhar, tem uma indigesta salada mista com "x".

sábado, 16 de julho de 2011

Stevie Wonder e eu confirmados no Rock in Rio IV

Quando eu pensava que 2011 estava completo no quesito "grandes shows", depois da arrebatadora e inesquecível apresentação de Paul McCartney no Engenhão, eis que a organização do Rock in Rio IV – até então com line-up meia-boca – anuncia mais um dia de festival, 29 de setembro, tendo como atração principal ninguém menos que Stevie Wonder.

Qualquer adjetivo abaixo de gênio é pouco para definir Stevie Wonder, verdadeiro baluarte da música negra americana e um dos meus maiores ídolos. Lembro que certa vez, numa empresa em que trabalhei, um colega achou estranho quando toquei um set list só com músicas de SW. Ele disse algo como "nunca vi ninguém fazer uma coletânea com músicas de Stevie Wonder".

Pois é, eu fiz. Uma seleção com mais de 30 músicas, e só coisa boa: "Isn’t she lovely", "My chery amour", "For once in my life", "Superstition", "Ebony & ivory" (épico dueto com Paul McCartney), "As" (uma das mais espetaculares músicas de SW, embora pouco badalada, que ganhou ótima releitura com George Michael e Mary J Blige), "For your love", "I Just called to say I love you", "Overjoyed" (outra que dispensa comentários), "Ribbon in the sky", "You are the sunshine of my life", só para citar algumas.

O anúncio de Stevie Wonder já seria suficiente, mas ainda tinha mais. Diferentemente, por exemplo, da abertura do Rock in Rio IV – que terá Elton John "mais 10", como se diz no futebol – o 29 de setembro não será data de uma única estrela. As outras atrações incluem grandes nomes da música internacional, como Jamiroquai e Joss Stone. Entre os brasucas, dois encontros prometem: Marcelo Bonfá e Dado Villa Lobos, que tocarão o repertório da Legião Urbana com convidados, acompanhados da Orquestra Sinfônica Brasileira, e quatro "filhos de peixe": Diogo Nogueira (filho de João Nogueira), Davi Moraes (Moraes Moreira), Max de Castro e Wilson Simoninha (Wilson Simonal), que certamente farão todos dançar no Baile do Simonal.

Ainda falta definir um nome para o line-up, mas, desde já, o 29 de setembro é o melhor dia do Rock in Rio IV. Eu já comprei o meu ingresso. Encontro você lá.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Paul McCartney in Rio: I saw him standing there

Há algumas horas, assim que saí do Engenhão, depois de assistir ao show de Paul McCartney – o primeiro dele no Rio de Janeiro em 21 anos – minha euforia era tanta que a vontade era de gritar e dizer mil palavrões. Acho que era muita emoção contida, ainda não extravasada, mesmo após quase 3 horas de apresentação, somada a um cansaço extremo de horas a fio em pé (coluna, pernas e pés pedindo arrego). Segurei um pouco a onda, para não pagar mico, mas, na quilométrica fila para pegar o trem, não deu mais pra segurar, o coração explodiu, e eu mandei um “p@#!, eu viiiiiiiiiiiiiiiiii”!!!

Com o mico pago e a euforia baixada, a minha maior sensação depois do show é a de dever cumprido, de ter passado por uma etapa obrigatória na vida. Daqui a 5, 10, 20, 30 anos, vou poder dizer ao meu filho: eu vi o maior músico do mundo. Não haverá outro Paul McCartney, e eu sinceramente acho que, a despeito de todo o vigor do ex-beatle, aos 68 anos, não haverá outra chance de vê-lo no Brasil (espero estar errado!). Citando um ídolo que não pude ver, Elvis Presley, era agora ou nunca.



Num Engenhão com ótimo sistema de som, Paul começou a apresentação um pouco mais de 10 minutos atrasado, com “Hello Goodbye”. Até meados da noite, o show alternava momentos mais empolgantes, sobretudo nas músicas dos Beatles, com outros contemplativos, quando Sir Paul tocava seus “lados B”. Isso até “Band on the Run”, um dos melhores momentos do show, iniciar a catarse coletiva. A partir daí, foi uma sequência incansável de sucessos, com destaque para “Hey Jude”, em que um grupo de pessoas da plateia vip segurava cartazes que diziam “na”, somando-se ao coro da multidão. Sons e imagens que certamente ficarão registrados na mente do público como uma fotografia.

A plateia, aliás, deu um show à parte em todo o tempo: cantou todas as músicas, jogou bolas coloridas, acendeu luzes, pulou e respondeu às brincadeiras de Paul, que, como um maestro, regia a multidão. Não foi à toa que, num determinado momento, ele fez uma citação à música clássica. Macca era um regente perfeito. À frente de um quarteto “fabuloso” – com destaque absoluto para o competente e carismático baterista – o jovem senhor desfilou um set list com nada menos que 33 músicas (com direito a dois bis), empunhou a bandeira brasileira, vestiu uma camisa da seleção com seu nome escrito e fez 45 mil brasileiros parecerem estar numa grande aula de inglês.

“Something”, “The Long and Widing Road”, “Get Back”, “Live and Let Die” (com o já conhecido mas sempre surpreendente festival pirotécnico), “Let It Be”, “Yesterday” e “Helter Skelter” foram mais alguns grandes momentos de uma noite mágica, única, inesquecível, para a qual sobram adjetivos e emoção. E quando todos pensaram que já tinham visto tudo, uma chuva de papel picado, nas cores verde, amarela e azul, encerrou a noite – a essa altura já madrugada – de forma apoteótica, quase carnavalesca.

Os vídeos e as fotos vão ajudar a eternizar a noite de 22 de maio de 2011. Mas, na verdade, são desnecessários. Quem esteve lá não vai se esquecer jamais.


sábado, 9 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2: um soco no estômago com luvas de boxe

Ainda estou assimilando o soco no estômago que levei há pouco, quando acabou a sessão das 21h30 (lotada, como todas da estreia do cinema aonde fui) de Tropa de Elite 2. Eu e algumas pessoas ensaiamos aplausos ao final, mas o silêncio traduzia melhor a perplexidade de todos diante da grande verdade do filme, do Rio e do Brasil: o sistema é muito forte, quase invencível, e somos nós que o sustentamos. Talvez muita gente tenha consciência dessa verdade, mas ninguém até hoje, pelo menos que eu saiba, teve coragem de jogá-la no ventilador tão publicamente, sem poupar quem quer que seja. Nem é preciso dar nome aos bois para fazer o paralelo da ficção com a vida real.

Como filme de ação, achei que o original superou a sequência, até mesmo porque tinha o fator novidade. Mas a mensagem de TE2 é mais profunda, entra nas nossas tripas, dá um nó, fecha e joga a chave fora. O novo Tropa aproxima-se ainda mais da realidade porque derruba as próprias dicotomias que estabeleceu, no filme anterior, entre polícia e bandido, PM e Bope, honesto e corrupto, ampliando o leque da discussão. O traficante, o viciado e o policial desonesto continuam sendo culpados, mas há algo muito maior por trás deles, o tal sistema, diante do qual, em tempos de eleição, eu faço a pergunta: será que adianta somente mudar as peças do xadrez se o problema está no tabuleiro?

Por outro lado, acho que os responsáveis pelo filme, ao mesmo tempo em que criticam o sistema, ajudam a reforçá-lo, exibindo TE2 depois do 1º turno das eleições. Até entendo que existam motivos e interesses para isso, e não acho que a data de exibição influenciaria em alguma coisa, mas não deixa de ser uma pena. Pela reação da plateia, não foi só em mim que o filme causou a sensação de ter levado um soco no estômago com luvas de boxe. Multiplique isso por mais de 600 salas de exibição Brasil afora, "n" sessões e as versões piratas, via DVD e internet, que vão pipocar a partir de hoje, e tem-se como resultado algumas milhares de pessoas que, se não lutarão contra o sistema, pelo menos refletirão um pouco mais sobre suas vidas.

Ao final da sessão, saí do cinema duplamente feliz, por ter visto um filme excepcional e por votar nulo.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Apagão: cobertura nota 10 da Band News mostra o poder do bom e velho radinho

Ontem, durante o apagão que deixou o Rio - e tb São Paulo, Minas e outros estados - às escuras por cerca de 4 horas, fiz que nem os Titãs na música Sonífera Ilha e colei meu ouvido no radinho. Só não era o de pilha, e sim o do celular.

Liguei primeiro na CBN, que, como se estivesse alheia ao caos, transmitia o jogo do Vasco pela Série B, lá pelas 22h30. Fui, então, para a Band News, de onde só consegui me "descolar" por volta de 1h30. Não só pq esperava a luz voltar, mas pq a cobertura jornalística da emissora foi nota 10. Parecia aqueles filmes ou séries de TV muito bons, que te prendem do início ao fim. Repórteres entravam ao vivo do Rio, de SP, Brasília e BH. E os locutores, muito simpáticos e bem-humorados, retransmitiam o panorama das cidades afetadas a partir do relato dos ouvintes, via SMS, e-mail e Tweeter - os dois últimos, é claro, disponíveis somente em acessos por celular e notebook.

Frases como "Niterói está às escuras", "Copacabana já voltou", "esqueceram da Tijuca" e até "onde estaria a Madonna agora?" informavam e divertiam ao mesmo tempo. Como jornalista, senti orgulho da classe ao ver o ótimo trabalho executado pelos colegas da Band News. E tb de ver que o rádio, veículo em que já trabalhei, mostrar tamanha força nesses tempos em que se especula até o fim do jornal de papel. O radinho está mais vivo do que nunca, integrando-se perfeitamente aos novos veículos de comunicação para desempenhar de forma ainda mais eficaz seu papel de companheiro inseparável da população, em todas as situações, com ou sem luz.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Jornalista do SBT nunca ouviu falar de Luiz Ayrão

Muito bom e pertinente o artigo do jornalista Vagner Fernandes, biógrafo de Clara Nunes, publicado hoje (31/03) na coluna de Alcemo Goes, no Globo Online. No texto, o colega de profissão comenta a ignorância de uma vendedora da Saraiva Megastore que, indagada por um cliente se a loja possuía o livro sobre a sambista mineira, morta há 25 anos, lhe perguntou se a autora era a própria Clara.

A história me fez lembrar fato semelhante – e ainda mais lastimável – ocorrido no programa Qual é a Música, de Silvio Santos, há três semanas. Na ocasião, o “time das mulheres” tinha a presença de uma jornalista da casa, Cíntia Benini, que apresenta o telejornal SBT Brasil ao lado de Carlos Nascimento.

Na brincadeira musical, Silvio perguntou a Cíntia se conhecia Luiz Ayrão, autor da música que viria logo a seguir (sem o conhecimento dela ainda), Os Amantes. Ao que ela respondeu: “não, Silvio”. Ele insistiu: “nunca ouviu falar?” E ela, com a mesma tranqüilidade: “nunca, Silvio”.

Não dá pra medir ignorância. Mas quando digo acima que o caso de Cíntia é pior que a da livreira, logicamente estou me referindo ao fato de ela ser jornalista, âncora da segunda ou terceira maior emissora de TV do país.

Existe um mito sobre nós, jornalistas, de que somos obrigados a conhecer tudo sobre todos os assuntos. Quando desconhecemos algo supostamente óbvio, nossa competência para exercer a profissão é logo questionada, sempre com um ar de acusação.

Não é por aí. Mas é claro que, como tudo na vida, há parâmetros para saber até onde vai o limite entre a falta de onisciência inerente aos reles mortais e a ignorância retrógrada. Um dos mais justos, ao que me parece, é a relação do objeto ou da pessoa com o assunto em questão. Neste caso, o lugar que Luiz Ayrão ocupa na história da cultura nacional. Nenhum, segundo a jornalista que apresenta o SBT Brasil para milhões de pessoas.

Não cabe neste espaço descrever a biografia de Luiz Ayrão, mesmo porque uma rápida busca no Google cumpre bem essa função. Mas vale ressaltar que o carioca Luiz Gonzaga Kedi Ayrão é um dos grandes sambistas do Brasil. Cantor, compositor e escritor de mão cheia, lançou grandes sucessos como Porta Aberta, Nossa Canção e Ciúme de Você, as duas últimas regravadas com enorme êxito por Roberto Carlos.

Os mais novos certamente já ouviram Nossa Canção na voz de Vanessa da Mata, Ciúme de Você com Felipe Dylon e a citada Os Amantes com o sertanejo Daniel. E a lista de intérpretes ainda tem Maria Bethânia, Zizi Possi, Raça Negra, entre muitos outros. Não bastasse tudo isso, Luiz Ayrão ainda é figurinha fácil no Programa Raul Gil, onde costuma participar como jurado do quadro de calouros.

Se uma livreira não conhece Clara Nunes e uma jornalista nunca ouviu falar de Luiz Ayrão, é sinal de que já passou da hora de refletirmos sobre a (falta de) memória de nosso país. Nessa batalha contra o ostracismo a que estão relegados os grandes nomes da cultura brasileira, o Google não passa de um soldado raso. É preciso artilharia pesada, que só pode ser disparada pelos governos e pelas grandes empresas.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Fazendo música, jogando bola

Muitos antes de a revista Rolling Stones eleger Acabou Chorare o melhor disco brasileiro de todos os tempo, numa lista dos 100 mais divulgada em 2007, eu já considerava o álbum que os Novos Baianos lançaram em 1972, sob influência de João Gilberto, o número 1 da MPB.

Mas isso foi até hoje, quando tive a felicidade de ouvir pela primeira vez na íntegra, da primeira à última faixa, o disco seguinte de Moraes, Pepeu, Baby & cia., Novos Baianos Futebol Clube, de 1973. Foi uma experiência tão incrível que decidi relatá-la aqui neste espaço.

Não que Novos Baianos Futebol Clube seja melhor que Acabou Chorare. Na verdade, a sonoridade é bem parecida, lembrando até uma continuação. Igualdade até no número de faixas, 10 cada um. Talvez por isso, por não ser tão revolucionário quanto seu antecessor, F.C. não tenha conseguido a mesma projeção.

Mas o disco é bom demais. Tem mais samba que Acabou Chorare e a influência hippie nas letras é maior. Fazendo música e jogando bola, como diria Pepeu Gomes muitos anos depois, já em carreira solo, os Novos Baianos criaram verdadeiras obras-primas, como a deliciosa Vagabundo Não É Fácil e a brilhante Com Qualquer Dois Mil Reis, dona de letra atemporal.

Novos Baianos Futebol Clube é samba e rock, loucura e genialidade. Puros anos 70. Nasceu numa época em que eram mais freqüentes discos conceituais, bons do início ao fim, que revelavam surpresas a cada audição. Escute-o com fones de ouvido, para perceber a separação dos instrumentos em cada canal, e comprove.

A partir de hoje, a minha lista dos melhores de todos os tempos tem um novo e forte aspirante à primeira colocação. Talvez Acabou Chorare leve pequena vantagem, mas posso dizer que há um empate técnico.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Grupo Abba ganha museu na Suécia

O grupo sueco Abba, que se tornou um dos ícones da disco music graças ao hit Dancing Queen, ganhará um museu em Estocolmo. O Abba the Museum terá três andares e irá ocupar 6,5 mil metros quadrados no Stora Tulhuset, um imponente prédio construído há um século em estilo art déco.

A inauguração será em junho de 2009, mas a venda de ingressos começou hoje, 13 de março, no site do museu. As entradas só podem ser compradas on-line e as visitas têm dia e hora marcados. Segundo a BBC Brasil, a expectativa dos organizadores é de que o museu receba 500 mil visitantes por ano.

O site do Abba the Museum remete à fase de maior sucesso do grupo, no final dos anos 70. As páginas são coloridas e cheias de luzes, lembrando uma discoteca. O clima de revival também está numa imagem com a silhueta dos quatro integrantes, na qual dá para notar as roupas da época, inclusive a clássica calça boca-de-sino.

No site ainda há uma planta do museu, que mostra como serão dispostos os itens da exposição. Uma das atrações promete ser um estúdio onde os visitantes poderão cantar com o grupo e dançar como John Travolta, estrela do filme Os Embalos de Sábado à Noite, que marcou o auge da disco music.

O Abba surgiu em 1974, formado por Agnetha Fältskog, Björn Ulvaeus, Benny Andersson e Anni-Frid Reuss, cujas iniciais deram origem ao nome do grupo. Embora carregue o estima da música dançante, o quarteto – que se separou em 1982 – também emplacou várias baladas, como Fernando, seu primeiro hit, e a famosa The Winner Takes it All.

Uma coletânea bem satisfatória do grupo é a conhecida Abba Gold. Outra ainda mais completa é The Definitive Collection, CD duplo com 37 faixas.

quarta-feira, 12 de março de 2008

O fim dos ultramanos

Triste notícia publicada no site Rock Press. Sucesso de crítica, mas com pouca mídia, a banda gaúcha Ultramen vai encerrar as atividades após 16 anos de estrada. Embora ainda estejam rolando alguns shows, a despedida foi na quinta-feira passada, 6 de março, com a gravação do DVD Ao Vivo em Porto Alegre.

Formado por Tonho Crocco (vocal), Julio Porto (guitarra), Pedro Porto (baixo), Zé Darcy (bateria), Marcito (percussão), Malásia (percussão) e DJ Anderson, o Ultramen é – ou foi – uma das bandas mais criativas surgidas nas duas últimas décadas no cenário do pop-rock brazuca.

Cabia de tudo no som dos caras, tudo sempre muito bem-feito. Mas a especialidade do Ultramen era o samba-rock, na velha escola dos mestres brasileiros do suingue, com toques de modernidade garantidos pelo rap.

A banda ganhou mais notoriedade ao participar do projeto Acústico MTV Bandas Gaúchas, do qual foi destaque absoluto em meio aos quatro artistas participantes. As ótimas faixas Ultramanos, Santo Forte e Dívida, esta última um dueto inspirado de Tonho e Falcão, do Rappa, sintetizam bem o que era o caldeirão rítmico do Ultramen.

No site da banda há bastante material disponível para download gratuito, incluindo a íntegra do álbum Acústico, gravado em 2004 no Teatro São Pedro, em Porto Alegre. É uma boa forma de conhecer mais a fundo a história do Ultramen, que vai deixar saudades.

Resta desejar boa sorte aos músicos e torcer para um reencontro num futuro breve.

Veja abaixo o encontro do Ultramen com Falcão na dançante Dívida.


terça-feira, 11 de março de 2008

Parada de sucessos brasileira é retrato da mesmice

É de assustar a parada musical publicada hoje no jornal Extra, com os 10 CDs mais vendidos da semana, segundo o Instituto Nopem.

Da lista, somente 1, isso mesmo, U-M disco é lançamento. A estrela solitária é o cantor-surfista havaiano Jack Johnson, que surge na 6ª colocação com seu mais recente trabalho, Sleep through the Static. Título bem sugestivo, por sinal.

Michael Jackson, quarto colocado, aparece como uma novidade torta, com a reedição do clássico Thriller, embalado por remixes de músicas dos anos 80. A coletânea Pancadão do Candeirão do Huck 2008, um mix de vários funkeiros, também representa um esboço de inovação.

Mas qualquer tentativa de respirar novos ares pára por aí. A liderança do ranking é da coletânea Perfil, de Ivete Sangalo, seguida por outra compilação, Collection, do Queen.

Mais estranho ainda é ver o Acústico MTV do Kid Abelha, um disco lançado em 2002, ocupando o honroso posto de 5º álbum mais vendido do Brasil. E não está só. O MTV Ao Vivo do Jota Quest, de 2003, aparece em 8º, enquanto Estampado, gravado por Ana Carolina também em 2003, é o 10º.

Infinito Particular, de Marisa Monte, e Minha Bênção, do Padre Marcelo Rossi, ambos de 2006, completam o ranking.

A presença dessas peças de museu na parada de sucessos brasileira pode ser explicada – afinal, grandes magazines, como as Lojas Americanas, costumam cobrar R$ 9,90 por discos nacionais de catálogo – mas não justificada.

Não adianta se queixar da crise, da pirataria e da tecnologia sem investir em novidade, produto raro num mercado em que gravadoras e artistas deixam-se levar pela falta de ousadia e criatividade, enquanto o público se acomoda no conforto do passado.

Ao som do sonolento Jack Johnson, parece que a indústria fonográfica brasileira vai entregando os pontos. Tomara que acorde a tempo de mudar.

Não deixe o Capital Inicial esquecer seu passado

Vi no blog do colega Jamari França, do Globo Online, que tá rolando um manifestado encabeçado pelo blog Na Rota do Rock (NRDR) para que o Capital Inicial toque músicas dos anos 80 no show que fará em Brasília, no dia 21 de abril, e dará origem ao DVD Multishow Ao Vivo. Causa justa.

Não tô sabendo muito sobre o show. Fui ao site da banda e não tem nada lá, literalmente – o que, aliás, é uma tremenda mancada com os fãs. Uma rápida busca no Orkut e nada também sobre o repertório, só especulação. Idem no Google.

Vi o Capital sábado, no Altas Horas. Como é de costume nesses programas de entrevistas – quase todos péssimos quando o assunto é música – Dinho Ouro Preto falou muito superficialmente sobre o assunto. Mas foi o suficiente para dizer besteira.

Segundo o eterno garotão do rock nacional, este será o primeiro disco ao vivo do Capital, tirando o Acústico MTV. Ué, e o de 1996? Tudo bem que ele, Dinho, não tenha participado, pois estava em carreira solo na época. Mas e os outros? O disco leva o nome de quem, ora bolas? Além disso, se Dinho não estava, o guitarrista Loro Jones, que depois do unplugged cedeu lugar para Yves Passarel, marcava presença.

Bem, de volta ao DVD. Parece que não há nada confirmado sobre o set list, mas onde tem fumaça, tem fogo. E não deve ser a música Fogo.

Pelo passado recente do Capital, é bem possível que a suspeita encontre fundamento. No último show a que assisti, ainda na turnê do álbum Gigante, o maior sucesso do grupo até hoje, Música Urbana, não foi tocado.

A verdade é que, depois do estouro de Natasha, uma das inéditas de Acústico MTV, o Capital Inicial descobriu que a receita do bolo era fazer música para adolescentes. Vide o sucesso dos álbuns seguintes, Rosas e Vinho Tinto e Gigante, com a rebeldia juvenil de Quatro Vezes Você e o otimismo de Não Olhe pra Trás.

São boas músicas, sem dúvida, mas que estão muito longe, na qualidade e na verdadeira rebeldia punk, de clássicos do BRock como Autoridades, Psicopata, Descendo o Rio Nilo e Mickey Mouse em Moscou. Músicas que se não transformaram o Capital Inicial na segunda Legião Urbana dos anos 80, fizeram a cabeça de milhares de jovens na época. E essas pessoas, vale frisar, ainda compram os discos da banda e freqüentam seus shows, apesar da mudança de sonoridade.

Então, junto-me ao apelo do NDRD para que o Capital não se esqueça dos fãs “da antiga” neste que promete ser um dos melhores shows da história da banda.

Além de Música Urbana, Autoridades, Psicopata, Descendo o Rio Nilo e Mickey Mouse em Moscou, sugiro que estejam no set list as velhinhas Fátima, Veraneio Vascaína, Kamikaze, O Passageiro e 1999. Da geração pós-acústico, acho que não podem faltar Como Devia Estar, Quatro Vezes Você, Pra Ninguém, Olhos Vermelhos, Mais, Respirar Você, Sem Cansar, Não Olhe pra Trás, Perguntas sem Respostas e Sorte.

E nada de gastar tempo com homenagem à Legião Urbana! Já tiveram um disco inteiro para isso. A essa altura, Dinho também não precisa mais ficar à sombra de Renato Russo. Há tempos (com trocadilho, por favor) o Capital Inicial já construiu sua própria história.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Reedição de O Canto da Cidade traz Daniela Mercury no auge criativo

CRÍTICA DE CD/DVD


● Disco: O Canto da Cidade – 15 Anos
● Artista: Daniela Mercury
● Gravadora: Sony-BMG




No último reveillon, entre um abraço e outro nos amigos, ouvi Daniela Mercury interpretar O Canto da Cidade, música de 1992, no programa Show da Virada. Pensei: “Eis um exemplo de uma grande artista que ainda está presa ao passado”.

Ao escutar o CD homônimo, que é relançado agora, em versão remasterizada, pouco mais de 15 anos depois do original, vejo que aquele sentimento não era apenas uma sensação, e sim uma constatação.

O Canto da Cidade, o disco, é um dos melhores trabalhos na linha popular lançados nas últimas décadas no Brasil. Com sua voz marcante, a irreverência baiana e a influência dos mestres da MPB, Daniela Mercury criou um samba-reggae mais encorpado, que não apenas unia esses dois gêneros musicais, mas também trazia boas doses de pop e rock.

Que atirem a primeira pedra os puristas, mas na minha opinião a interpretação de Daniela Mercury para Você Não Entende Nada, de Caetano Veloso, é definitiva. Só pra Te Mostrar, dueto com o paralama Herbert Vianna, é um pop-rock de primeira linhagem. E até mesmo as percussivas O Canto da Cidade, Batuque e O Mais Belo dos Belos são oásis em meio à maior parte do que se produzia na chamada axé music da época. E ainda hoje é assim.

O problema é que Daniela se perdeu ao começar a investir na música eletrônica, após o também ótimo Feijão com Arroz, de 1996. Tentou fugir do estigma da axé music, mas não encontrou boas músicas, próprias ou de terceiros, que justificassem a fuga. Tanto é que o melhor de sua carreira está muito bem resumido na excelente coletânea Swing Tropical, da Som Livre, que traz essencialmente faixas retiradas dos CDs O Canto da Cidade e Feijão com Arroz. É um bom disco, com boas músicas, a maior parte delas no estilo samba-reggae.

Essa nova versão do CD acompanha um DVD com um show de Daniela Mercury na Praça da Apoteose, no Rio, em 1992. Curioso, ao ver a multidão que lotava o Sambódromo para assistir a uma cantora em início de carreira, é perceber que Daniela, desde aquela época, já carregava consigo o paradoxo de não depender tanto de vasto repertório para ser uma grande artista. Afinal, mesmo sem emplacar um hit do naipe de O Canto da Cidade há alguns anos, ela nunca perdeu o status de musa.

Com um set list irregular, que incluía as deslocadas Há Tempos (Legião Urbana) e Maluco Beleza (Raul Seixas), Daniela Mercury levantou a multidão, ajudada em muito por sua performance teatral, adquirida nos tempos de bailarina.

Mais interessante que o show são as gravações feitas para um especial da Rede Globo, em que Daniela faz duetos ao vivo com Tom Jobim (Águas de Março) e Herbert Vianna (Só pra Te Mostrar). Já Caetano Veloso ataca de ator no clipe de Você Não Entende Nada.

No final das contas, pela importância e qualidade, o CD inverte a lógica do mercado e torna-se mais relevante que as imagens do DVD. Quem sabe não esteja no velho disquinho digital a receita para Daniela Mercury reencontrar a essência de sua música.

Parabéns Cristina Mel, uma das maiores cantoras do Brasil

Hoje, 10 de março, é aniversário de uma das maiores cantoras do Brasil. Maria Bethânia? Não. Elba Ramalho? Menos. Ana Carolina? Tá frio.

Falo de Cristina Mel, cantora gospel com quase 20 anos de carreira. Se não tivesse optado pela música religiosa – da qual é, disparado, a melhor representante – Maria Cristina Mel (sobrenome artístico incorporado na Justiça recentemente) de Almeida seria unanimidade de público e crítica.

Certamente sua voz, de afinação e extensão raras, e sua musicalidade já teriam sido reconhecidas pelos prêmios Shell, Tim e Multishow da vida. Algo que, infelizmente, não acontece na música gospel, dada a pouca quantidade de premiações e a credibilidade duvidosa das que existem.

Conheço Cristina Mel há muitos anos. Ela já era uma referência para mim mesmo quando eu mal sabia o que era a música gospel. Durante os anos de Revista do Nopem, Universo Musical e Universo Gospel, foram vários encontros, entrevistas, bate-papos, desabafos e, é claro, audições de discos que, a despeito do porte das gravadoras pelos quais eram lançados, tinham um carimbo de qualidade.

A última vez que o talento de Cristina Mel me encantou foi em 2007, na gravação de um DVD da Line Records, no Vivo Rio. Lá estava ela no palco em meio a outros artistas da gravadora.

Sem desmerecer os outros, quase todos meus amigos, Cristina Mel era, na verdade, a única ali que merecia esse título. Ela É uma artista, na melhor e mais completa acepção da palavra.

No palco, Cristina Mel não só transmite a Palavra de Deus, objetivo comum de todos do segmento. Ela vai além: sente, transpira, emociona. Como nenhum outro – e aí não falo só dos evangélicos – mostra que a música, como diz o senso comum, não tem fronteiras. A música, na voz de Cristina Mel, é do tamanho do universo. Ela, sim, é um universo musical.

Se você nunca ouviu Cristina Mel cantar, dispa-se de qualquer preconceito e pudor, caso tenha algum. Peça de um amigo, baixe na internet ou encontre algum modo, convencional ou não, de ouvir um de seus discos. Para lhe ajudar, dou a dica do CD e DVD 15 Anos ao Vivo, a cuja gravação, realizada em São Paulo, tive a honra de assistir. Ouça a última faixa, A Mão do Mestre, e deixe-se emocionar.

A você, minha amiga, parabéns pelos 44 anos de puro talento. Serei seu eterno fã.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Não sabe brincar...

Foto: Globo Online / Montagem: Marcos Bin

A torcida do Flamengo comemorou mais a vitória de 4ª pela Libertadores do que a conquista da Taça Guanabara, domingo, contra o Botafogo. E não foi por causa da diferença de nível entre as duas competições.

Demorou para cair a ficha rubro-negra. Ou seria o apito? Enfim, os flamenguistas precisaram de alguns dias para perceber que as lambanças dos Homens de Preto custaram o título ao Botafogo.

Somente a perplexidade retardada – em todos os sentidos da palavra – pode explicar a foto ao lado, em que o zé mané do Souza tenta tirar uma onda com os torcedores alvinegros.

Ele não deve ter se lembrado que haverá outros jogos entre Flamengo e Botafogo este ano, um deles daqui a algumas rodadas, no 2º turno do Carioca. Se os jogadores alvinegros já demonstraram sua revolta agora, com palavras, o que esperar da próxima partida? E as torcidas, como irão se comportar?

A idiotice do Souza pode custar caro. Se isso acontecer, ficar de castigo no canto da sala será uma punição leve demais.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

É proibido pensar

Acho que já tive a oportunidade de dizer aqui no blog que não tenho acompanhado a música gospel com afinco. Da minha parte, faltam tempo e interesse; do gênero musical, novidades atraentes. Como diria a música dos Paralamas, quase sempre são variações do mesmo tema sem sair do tom.

Além disso, a postura de muitos artistas evangélicos é no mínimo frustrante para quem conhece o meio. Não gostam de ser chamados de artistas – preferem o termo bíblico “levitas” – mas agem com mais orgulho e vaidade que um rock star internacional. Some-se a tudo isso os diversos escândalos envolvendo cantores e pastores e o desânimo está mais que justificado.

Bem, mas este post não é para falar mal da música gospel, muito pelo contrário. Quero destacar algo que vi e achei tão interessante a ponto de gastar um tempinho para falar disso e compartilhar o que penso com todos os meus 2 leitores.

Uma brevíssima introdução sobre o assunto deste texto, o cantor e compositor João Alexandre. Paulista de Campinas, ele é um dos (poucos) poetas da música gospel, autor de letras inspiradas e melodias elaboradas que flertam com samba, bossa nova e jazz. Foi um dos criadores da chamada linha “MPB gospel”.

Conheci o mais recente CD de João Alexandre, É Proibido Pensar, graças a um artigo que Elvis Tavares publicou no site da Efrata Music. O que me chamou a atenção foi o clipe da música, à disposição no Orkut. E não foi só a mim, como comprova uma rápida investigação na internet.

Na verdade, o polêmico vídeo, criado pelo blogueiro carioca Tito Von Brauner, é só o cartório. Há muitas aferições dele, mas na maioria das vezes as imagens são como retratos dos bois cujos nomes foram dados pelo próprio João Alexandre na letra de É Proibido Pensar, título inspirado, obviamente, na canção de Roberto e Erasmo.

De forma mais ou menos velada, no esquema “para quem sabe ler, um pingo é letra”, João Alexandre critica várias denominações evangélicas, ao falar do comércio e da teoria da prosperidade que tomou conta de muitas igrejas. A música gospel é atacada em seus modismos e mesmices: os “profetas apaixonados(...) distantes do trono”, o uso de instrumentos orientais, como o shofar (o vídeo ilustra com foto da cantora Fernanda Brum), a cópia de modelos importados, entre outros.

Mas independentemente de nomes e denominações, justiças e injustiças, João Alexandre está de parabéns por mostrar que, ao contrário do título da música, é possível refletir sempre, até mesmo quando o assunto é religião. Discussão muito pertinente numa época em que fiéis coíbem jornalistas de exercerem seu dever, que nada mais é senão informar.