sábado, 9 de junho de 2012

Biografia de Álvaro Tito é uma história de amizade

Depois de um longo e nem tão tenebroso assim inverno, retomo as postagens aqui no blog com a felicidade de tecer alguns comentários sobre o livro Álvaro Tito – Uma biografia sem barreiras. A obra marca a estreia literária do meu amigo Elvis Tavares, prolífico compositor, com diversos sucessos emplacados no cenário da música gospel.

Só para citar alguns, são de Elvis Tavares, com ou sem parceiros, os hits Coração de carne (gravado por Wanderley Cardoso), O velho homem (J. Neto), O jovem rico (Novo Som), Os portais (Vitorino Silva) e Fogo Santo (Lea Mendonça). Mas sua composição mais famosa, sem dúvida, é Não há barreiras, canção que, como se lê no livro, representou muito mais que o maior sucesso na voz de Álvaro Tito – foi um verdadeiro divisor de águas da música gospel brasileira, assim como outras faixas daquele LP, também intitulado Não há barreiras, lançado em 1986, pela multinacional Polygram (atual Universal Music).

Apesar de trazer a palavra “biografia” no nome, o livro de Elvis Tavares é, na verdade, a história de uma grande amizade entre biógrafo e biografado, bem como o testemunho da admiração – musical, sobretudo – que o autor nutre por Álvaro Tito. E não é para menos: ao longo das 271 páginas, o leitor descobre que Tito, como era chamado na infância, é multi-instrumentista (saxofone, violão, guitarra, bateria e percussão são alguns dos instrumentos citados); que “peitou” os dirigentes da supracitada Polygram para ele mesmo produzir e arranjar o LP Não há barreiras, isso com apenas 21 anos; que na juventude, enquanto o sonho de qualquer artista era ingressar numa grande gravadora e ser indie não estava em voga, Álvaro já pensava em seguir carreira independente (pode até ser considerado um dos pioneiros dessa iniciativa, hoje tão em moda, com a falência das grandes gravadoras por causa da pirataria), que é considerado o precursor da black music gospel nacional, entre outros inúmeros feitos.

Também conferem mais riqueza ao trabalho os depoimentos de grandes artistas evangélicos admiradores de Álvaro Tito – Marco Aurélio, Martin Lutero, Silvera e Alex Gonzaga. Martin Lutero revela que, nos anos 80, nutria uma rivalidade musical com Álvaro Tito, bem no estilo Wanderley Cardoso x Jerry Adriani. Outra novidade, ao menos para mim, é uma parceria do biografado com Chrigor, ex-vocalista do Exaltasamba, quando ele deixou o grupo e iniciou carreira solo.

Aliás, as referências à música popular são inúmeras. Elvis Presley, Al Jarreau, Earth Wind and Fire, Roberto e Erasmo Carlos, Tim Maia, Stevie Wonder (maior influência musical de Álvaro Tito), João Gilberto e Tom Jobim são alguns artistas citados. Todos aparecem na história do livro (e de Álvaro) contextualizando uma determinada época, uma música gravada, uma situação ocorrida. E vale destacar, tudo sempre com citações bíblicas. É nítida a preocupação do biógrafo de não chocar os evangélicos mais tradicionais.

Em vários momentos do livro, por sinal, Elvis Tavares pega uma trilha paralela à de Álvaro Tito e cita alguns dos pioneiros da música gospel, como Vitorino Silva, Feliciano Amaral, Ozeias de Paula e Edison Coelho. Nomes a quem Aline Barros, Regis Danese, Ana Paula Valadão e outros que já extrapolaram os limites do meio evangélicos devem um “muito obrigado” por terem iniciado o que é hoje o mercado gospel brasileiro, com músicas executadas em horário nobre na Rede Globo e discos à venda em supermercados e megastores virtuais.

Outros momentos marcantes da música gospel também são citados, como o boom de gravadoras evangélicas nos anos 80 e 90 – muitas delas já extintas, a exemplo de Nancel Produções e Som e Louvores – e a criação, por Marina de Oliveira, da MK Music (na época MK Publicitá), hoje, sem dúvida, a maior produtora fonográfica do meio gospel.

Por tudo isso, pode-se dizer, sem medo de errar, que Álvaro Tito – Uma biografia sem barreiras é também um livro sobre a história da moderna música gospel brasileira. Um tema, muito provavelmente, que Elvis Tavares – profundo conhecedor do assunto, como denotam seus artigos no site da editora Efrata Music – irá explorar mais a fundo em obras futuras.

Bom, depois de chegar à segunda página do Word, percebo que aquilo que era para ser apenas um preâmbulo do release que escrevi sobre o livro acabou se tornando um novo texto! Se você, que chegou até aqui, quiser ler mais sobre a publicação, clique aqui e baixe o release. Lá existem várias outras nuances do livro que não explorei aqui no blog.

Por fim, deixo meus parabéns ao amigo Elvis Tavares e digo que estou muito feliz por ter participado de uma forma ou de outra de sua bem-sucedida empreitada, seja diretamente, ao ser citado no livro, junto com matérias que escrevi para meu site Universo Musical, seja indiretamente, por meio de minha contribuição ao site da Efrata Music, criado e administrado por mim. Espero que, como falei acima, esta seja a primeira de muitas produções literárias sobre a música gospel brasileira, carente desse tipo de registro.

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